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Mídia: Propaganda política e manipulação

O nome muda, mas a estratégia é a mesma: gerar medo para desarmar o pensamento crítico.

Este texto é fruto da minha leitura do livro Mídia: Propaganda Política e Manipulação, de Noam Chomsky — uma obra essencial para quem quer entender como, mesmo em democracias, a mídia pode ser usada como instrumento de dominação e controle.

Chomsky mostra que a manipulação não acontece com censura explícita, mas por meio de filtros invisíveis que determinam o que pode ou não ser dito. O primeiro desses filtros está na estrutura de propriedade: os grandes meios de comunicação pertencem a conglomerados bilionários. Jornais, emissoras e portais são empresas privadas com interesses próprios, e raramente publicam algo que possa prejudicar seus donos ou os setores com os quais têm ligação. Isso já limita drasticamente o que chega ao público.

O segundo filtro é a dependência da publicidade. A imprensa vive do dinheiro dos anunciantes — governos, grandes bancos, redes varejistas e multinacionais. Isso cria uma relação de submissão. Uma notícia que afete negativamente um desses patrocinadores dificilmente será publicada com liberdade. A linha editorial é, muitas vezes, guiada não pela busca da verdade, mas pela preservação dos interesses comerciais.

O terceiro filtro está nas fontes. O jornalismo profissional depende de fontes "oficiais" — governos, assessorias, grandes empresas, especialistas alinhados ao poder. A informação circula dentro de uma bolha onde os que contestam a ordem estabelecida são rotulados de radicais ou simplesmente ignorados. O resultado é uma cobertura enviesada, onde o contraditório quase nunca tem espaço real.

Além disso, existe o quarto filtro: a pressão organizada. Sempre que alguém dentro da mídia tenta romper com esse sistema, sofre ataques. Grupos políticos, empresariais e ideológicos mobilizam-se para atacar, censurar ou deslegitimar a mensagem. Essa prática constante de perseguição gera um ambiente de medo nas redações, promovendo a autocensura. Muitos jornalistas acabam se adaptando para sobreviver profissionalmente.

Por fim, o quinto filtro: a criação de inimigos. Sempre que o sistema precisa justificar repressão, censura ou medidas autoritárias, ele constrói um “inimigo” conveniente. Já foi o comunismo, depois o terrorismo, hoje são as “fake news” ou os “extremistas antidemocráticos”. O nome muda, mas a estratégia é a mesma: gerar medo para desarmar o pensamento crítico. E quando o medo toma conta, o povo aceita qualquer coisa em nome da “segurança” ou da “ordem”.

O que Chomsky demonstra é que a mídia, ao invés de informar, muitas vezes cumpre o papel de disciplinar a sociedade. Ela não mostra a realidade como ela é, mas como os donos do poder querem que ela seja percebida. No lugar de jornalismo, temos muitas vezes engenharia de opinião.

E o mais preocupante: esse processo se dá sob a aparência de normalidade democrática. Por isso, a principal lição do livro é clara — desconfie, investigue, questione. Porque quem não questiona, consente. E quem consente, acaba sendo manipulado sem nem perceber.

José Trabulo Júnior - Publicitário, criador da X Conexões Estratégicas

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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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