Vivemos um momento em que muitos políticos tratam a comunicação digital como palco de vaidade, e não como ferramenta estratégica. A obsessão por “engajamento fácil” tem gerado uma onda de conteúdos vazios, sem propósito, sem narrativa e, sobretudo, sem direção política. Publicam-se dancinhas, memes descontextualizados e frases de efeito, como se a mera presença digital fosse sinônimo de relevância eleitoral.
Mas o fato é que a comunicação sem posicionamento não constrói voto — ela apenas ocupa espaço.
Carlos Manhanelli, referência em marketing político, é direto ao afirmar: “Quem não sabe o que comunicar, acaba comunicando o que não deve”. Em outras palavras, a ausência de uma linha estratégica de comunicação transforma o político em um produto inconsistente. Isso prejudica a percepção de autoridade, fragiliza a confiança do eleitor e, no limite, banaliza o próprio ato de se candidatar.
Segundo estudo da FGV ECMI (Escola de Comunicação, Mídia e Informação), campanhas que não apresentam clareza de eixo temático e não seguem uma linha de comunicação coerente geram menor índice de recall entre o eleitorado. Ou seja: o público até vê, mas não retém. Isso porque o cérebro humano atribui valor àquilo que repete com coerência e consistência. Quando um político fala de tudo, dança de tudo e opina sobre tudo, acaba não sendo lembrado por nada.
Bruno Hoffmann, estrategista de campanhas digitais, reforça: “O voto é uma escolha baseada em confiança e identificação. Não é a quantidade de postagens que gera isso, mas a qualidade estratégica da comunicação.” Ele alerta que o excesso de conteúdo superficial pode levar ao desgaste precoce da imagem do candidato, antes mesmo do início oficial da campanha.
Ainda mais preocupante é o impacto que esse comportamento causa na credibilidade da política como um todo. Quando o eleitor se depara com uma enxurrada de postagens irrelevantes — e percebe que, por trás do perfil, há apenas um personagem tentando surfar tendências — o efeito colateral é a descrença. Ele a a enxergar todos como iguais. Todos como oportunistas. Todos como vazios.
Política não é entretenimento. Política é direção. E direção exige conteúdo, estratégia e intencionalidade.
A comunicação política eficaz precisa partir de perguntas fundamentais: que causas defendemos? Qual é o inimigo político a ser combatido? Que valores nos diferenciam? Como isso será traduzido, repetido e reforçado nas redes sociais ao longo do tempo?
Fazer postagens aleatórias todos os dias pode parecer produtividade, mas é ruído disfarçado de presença. O que gera conversão é narrativa. É clareza. É a capacidade de gerar pertencimento com quem assiste.
Trend sem sentido pode dar curtidas, mas não dá voto. E voto, no fim, é o que separa quem faz política de quem apenas brinca de influenciador.
José Trabulo Júnior - Publicitário, criador da X Conexões Estratégicas
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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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